quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Castro Alves, 1871: A última entrevista do poeta da liberdade

do Blog de Paulo Fonteles Filho
Vale a pena lembrar a última entrevista de Castro Alves, concedida ao escritor e professor, Augusto Sérgio Bastos, em 1871, no Palacete do Sodré, em Salvador. Cecéu, como o poeta dos escravos era chamado pelos amigos baianos, morreu às 15:30h do dia 6 de julho de 1871, um mês após haver concedido essa franca e comovente entrevista, onde aborda temas ainda hoje atuais, como a escravidão e a liberdade.

Quem é o poeta Castro Alves?

 

Sou um homem que escreve e declama seus poemas. Por amor, por compulsão e por herança. Um poeta brasileiro nascido em 14 de março de 1847 lá na fazenda Cabaceiras, sete léguas distante de Curralinho. Um baiano do sertão. Meus pais foram o doutor Antônio José Alves e dona Clélia Brasília da Silva Castro, que também nasceu em um 14 de março.
A família mudou para Salvador quando eu tinha sete anos de idade. Aqui completei o curso primário e fiz o ginasial. Aos 15, em 1862, eu e meu irmão José Antônio fomos morar no Recife para fazer o Curso Anexo, um ano de aulas preparatórias que habilitavam às provas da Faculdade de Direito, onde fiz o 1º e o 2º ano.
Lá, ainda em 62, pela primeira vez tive um poema publicado pela imprensa, “A destruição de Jerusalém”, no Jornal do Recife. No ano seguinte saiu no nº 1 de um jornal acadêmico, chamado A Primavera, o meu primeiro poema contra a escravidão: “A canção do africano”. Em 68, fui para São Paulo continuar meus estudos jurídicos. Completei apenas o 3º ano, sem bacharelar-me por conta de problemas relacionados à saúde.
Mas as publicações se sucederam, tanto no Recife como em Salvador, no Rio de Janeiro e São Paulo; muita vez em seqüência às declamações que eu fazia nas ruas, nos saraus e nos teatros, sempre com grande sucesso, diga-se de passagem. Alguns desses versos, junto com muitos inéditos, hoje fazem parte do meu livro Espumas flutuantes, primeiro e único até agora, e que foi lançado em outubro do ano passado, aqui mesmo na Bahia, para onde voltei no final de 69.

Fale um pouco mais sobre sua família e a infância em Salvador

Éramos muitos irmãos: José Antônio, Zezinho, o primogênito, poeta que se suicidou aos 19 anos; eu, Antônio Frederico de Castro Alves, era chamado de Cecéu pelos de casa e pelos amigos; João, que faleceu recém-nascido; Guilherme, o quarto, também poeta; aí vem a primeira mulher, Elisa; depois Adelaide, a Sinhá, minha preferida, mas que ninguém nos ouça; e Amélia, uma bela poetisa. Bem mais tarde, Cassianinho, nascido das segundas núpcias de meu pai.
 
Papai foi um médico famoso. Estudou na Europa, foi professor da Faculdade de Medicina, homem de talento artístico apreciável, com o que conseguiu grupar em nossa casa uma galeria de pinturas estrangeiras e nacionais de grande fama. Dessa paixão resultou fundar em 56, aqui na Bahia, a Sociedade das Belas-Artes. No lar, essa influência se exerceu na nossa educação artística: todos inclinados à música, ao canto, ao desenho, à pintura, às letras, favorecendo disposições da natureza que seriam consagradas. Mas papai e mamãe tinham pouca saúde. Perdi-os cedo, ela de tuberculose, em 1859, com apenas 34 anos de idade, e papai há cinco anos, aos 48.
 
 
Voltemos ao ano de 1854, quando fomos morar na capital, no pequeno sobrado da Rua do Rosário no 1. Essa casa, que marcaria de forma definitiva a minha vida, era cheia de lendas e mistérios: uma linda moça, Júlia Feital, nela foi assassinada pelo noivo que, louco de ciúmes, a fulminou com uma bala de ouro. Eu, menino, imaginava a cena e tinha muito medo. Ainda bem que logo depois nos mudamos.
 
Assim que chegamos a Salvador, fui estudar no Colégio Sebrão, uma escola tradicional, e depois no Ginásio Baiano, de conceitos pedagógicos avançados para a época: estudávamos várias matérias ao mesmo tempo, não recebíamos castigos físicos e ainda por cima éramos incentivados a participar de torneios literários. Para mim, que já trazia o amor à arte cultivado pela família, foi uma espécie de preliminar, desculpem a imodéstia, para a glória futura. Celebrávamos principalmente as datas cívicas, o que me deixava envaidecido, pois meu avô materno, José Antônio da Silva Castro, foi um dos heróis da independência da Bahia, que só foi conquistada em 2 de Julho de 1823. É que em muitas províncias, como o Senhor sabe, os portugueses não acataram a proclamação do Sete de Setembro e queriam nos manter atados à Coroa lusitana. Na Bahia, meu avô ajudou a derrotar as tropas inimigas, para assim confirmar a independência do Brasil. Ele foi condecorado por bravura no comando de um batalhão de voluntários, por ele mesmo criado. Vou lhe contar uma coisa que pouca gente sabe: foi nesse batalhão que, sob suas ordens, lutou a heroína baiana Maria Quitéria. Ainda vou escrever um poema em homenagem a essa grande mulher.
 
 

“O povo – esse condor gigante – sacudindo as longas asas
pairou na ordem social por sobre a realeza,
na ordem científica por sobre a autoridade.”


 

Como o Senhor vê a poesia nesta segunda metade do séc. XIX?

Olhe bem. A poesia na terra dos Andradas, dos Pedros Ivos, e dos Tiradentes deve ser majestosa como as matas virgens da América; arrojada como seus rios gigantes; livre como os ventos que passam gementes por suas várzeas, e que zurzem os costados pedregosos dos seus gigantes de granito. A poesia enfim deve ser o reflexo desta terra. Isto no que toca à natureza, é claro.
 
No que toca às idéias desta metade de século, eu diria que a poesia deve ser o arauto da liberdade – esse verbo na redenção moderna – e o brado ardente contra os usurpadores dos direitos do povo.
 
Quanto a sua forma, a literatura, sendo a expressão da humanidade, libertou-se dos preceitos asfixiadores da escola clássica – essa jaula do pensamento – assim como a humanidade despedaçara o feudalismo – essa jaula da dignidade popular. O povo – esse condor gigante – sacudindo as longas asas pairou na ordem social por sobre a realeza, na ordem científica por sobre a autoridade. O espírito popular tem sido iluminado pelos luzires do cometa da civilização.
 
Tudo tende a idealizar-se. No entanto, lanço uma censura a dois erros, que em geral permanecem em nossa literatura, e neles eu sei que a minha poesia não está:
 
Um – a falta de brasileirismo nas composições. O segundo erro, que ainda lavra, especialmente na Bahia, é o classicismo. Deus me livre de maldizer das obras-primas que a antiguidade nos legou. Não. Homero, Dante, Virgílio e outros hão de ser sempre admirados. Mas não queirais, homens da atualidade, mandar, como primor de escultura, uma cabeça de esfinge para a Exposição, nem apresentar nos banquetes de Napoleão III a paródia dos vasos soterrados de Pompéia… passou esse tempo… A poesia hoje é Byron, Barthélemy, Lamartine, Victor Hugo – esses Cristos humanos.
 
 

O poeta é às vezes um corcel sem freios…
Eu tenho consciência de que faço alguns poemas
para voz alta, e não para leitura com um chá, no
aconchego das cadeiras de balanço.


 

De que forma o Senhor situa a sua obra dentro deste contexto?

É muito difícil a um poeta situar sua própria obra no contexto de uma literatura. Talvez possa dizer que segui um caminho que é normal a todo escritor: o de fazer com que a vida e a obra entrem em acordo e possam viver bem juntas.
 
Olhe bem. Hoje, a palavra da poesia, além de ser íntima, também deve ser cívica. Tenho o sangue militar do meu avô e cheguei até a me alistar no Batalhão Acadêmico de Voluntários que foi à Guerra do Paraguai, mas nunca fui um apologista da guerra. Amo sim a minha pátria, luto pela abolição da escravidão, canto os feitos heróicos, as batalhas vitoriosas contra a opressão e confesso o meu amor em tom vibrante; só em louvor ao Dois de Julho escrevi cinco poemas. Muitos dizem que minha obra está composta de uma parte política e de uma parte lírica. Penso que vigora sempre o mesmo amor à humanidade, sob roupagens diversas: amor coletivo e amor pessoal, e não saberia dizer qual o mais importante.
 
Acho que o poeta deve falar aos corações. Eu falo. Mas, não é com sussurros que se incendeia o público; é com entusiasmo, dramaticidade, retórica. O poeta é às vezes um corcel sem freios… Eu tenho consciência de que faço alguns poemas para voz alta, e não para leitura com um chá, no aconchego das cadeiras de balanço. Algumas vezes, anoto ao lado do texto: “Não se publica”. Não sei se será publicado, pois tenho a certeza de que o poeta, quando muito, é o dono dos versos, mas não é nunca o dono do destino do poema.
Particularmente, acho exagerado o gosto pelo doentio que os poetas da geração anterior a minha desenvolveram. Eles estavam voltados para eles mesmos, amavam a musa distante, idealizada, intocada e etérea. A minha amada é de carne e osso (o poeta sorri). Eu aposto no amor, na vida; às vezes perco, às vezes ganho… Deixo aos críticos do futuro o julgamento do meu trabalho.

Que figuras exerceram influência na sua formação de escritor?

Tudo o que o escritor vê, vive ou lê o influencia. Assim, sou filho de Horácio, de Byron, Barthélemy, Lamartine, Musset, do grande Hugo principalmente… Aprecio Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Junqueira Freire, mas se tivesse que escolher apenas dois brasileiros, citaria dos contemporâneos, meu amigo Fagundes Varela e dos passados, o Casimiro de Abreu.
 

 

Ser chamado de “poeta dos
escravos” é uma honra. Acho,
porém, que não diz tudo; sempre
quis ser “O poeta da Liberdade”.


 

O Senhor está começando a ser chamado “O poeta dos escravos”. Como se sente?

Eu me orgulho do epíteto. Estou, inclusive, na fase final de negociações para a impressão de meu livro Os escravos, que até o final do ano será publicado. A escravidão é uma das mazelas, talvez a mais horrenda, que devemos combater em prol da liberdade. É certo que, desde 1850, instituíram-se pesadas penas para o tráfico negreiro, já abolido pela legislatura de 31, mas ainda vigente. Há dois anos foi proibida a venda de seres humanos em pregão público e até o fim deste ano – não sei se o Senhor sabe – será votada a Lei do Ventre Livre. Mas é pouco. Muito pouco.
 
Sempre fui devotado às causas sociais. Fundei, com Rui Barbosa – meu antigo colega do Ginásio Baiano – e outros alunos da Faculdade de Direito, a Sociedade Abolicionista do Recife. Esse pendor abolicionista vem do berço. Lembro de papai a reclamar, sempre, do tratamento cruel que era dado ao negro. O amor que eu tive e tenho pela minha bá, que já se foi, a negra Leopoldina, minha ama de leite, minha segunda mãe, a me contar as histórias de senzalas, mucamas e amores proibidos… O meu tio, o alferes João José, herói da Guerra do Paraguai, brincando comigo de cavalinho, montado em seus joelhos, dizendo-me: “A liberdade, filho, é o maior bem do mundo”. Ah! Como essas coisas ainda me comovem…
 
Ser chamado de “poeta dos escravos” é uma honra. Acho, porém, que não diz tudo; sempre quis ser “O poeta da Liberdade”. E para mim, Abolição e República são palavras quase irmãs: uma puxa a outra, naturalmente. Tanto que, em paralelo à minha luta pela libertação dos escravos, participei também de alguns comícios republicanos. Lembro-me bem de um deles, dissolvido pela polícia, quando criei de improviso os versos de “O povo ao poder” (nesse momento o poeta abre um sorriso e levanta-se, com esforço, da cadeira de balanço austríaca). A segunda estrofe desse poema começa com dois versos que agitaram a multidão, aos gritos e assobios (o poeta de pé, com a voz já rouca e entrecortada por um pigarro renitente):
 

A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor.
Senhor!… pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua de seu…
(um acesso de tosse interrompe a fala; 
ele se senta novamente, e com dificuldade termina a estrofe)
Ninguém vos rouba os castelos
Tendes palácios tão belos…
Deixai a terra ao Anteu.
Desculpe-me, Senhor… Desculpe-me… (aparentemente refeito) Prossiga, prossiga…

Além dos comícios republicanos e da campanha abolicionista, é sabido que o Senhor tem participado de debates sobre a liberdade de imprensa e de muitos outros movimentos civis, como a luta pelo voto feminino. Por outro lado, as discussões literárias também não foram poucas. Fale-nos sobre sua polêmica com o poeta Tobias Barreto.

O Tobias? Isso é coisa do passado, não tem mais importância… Nem sei se vale a pena voltar ao assunto. Mas o que posso dizer?… Vamos ver…
 
Começamos como amigos – temos, inclusive, poesias dedicadas um ao outro; passamos a colegas, tornamo-nos rivais e acabamos inimigos. Intrigas pessoais e literárias. Discordamos em quase tudo, tanto na poesia quanto no teatro. Olhe que nossos desencontros se acaloraram a partir de 66, quando ele teve o desplante de, em público, dizer que a atriz Adelaide Amaral era superior a minha amada D. Eugênia Câmara, um talento fulgurante que Portugal nos legou; inigualável, como o Brasil jamais tivera oportunidade de assistir.
 
O Senhor Tobias Barreto é feio, velho, escreve mal e declama pior ainda. Não conhece a língua que fala, o significado das palavras; já o aconselhei a fazer, de quando em quando, uma viagenzinha ao Morais. Nos recitativos fica nervoso, tem um jeito desastrado, não controla a voz. Não possui o domínio cênico que eu tenho, se veste mal. Eu entro no palco vestido de negro, chique, com uma flor na lapela, óleo nos cabelos, madeixas minuciosamente espontâneas e pó-de-arroz no rosto, para parecer mais pálido. Começo logo com uma das minhas bombas “O século”, “Pedro Ivo”, “Visão dos mortos”…, com resultado previsto e certo: a platéia me ovaciona. Lembro-me de um sarau em São Paulo , organizado pelo Arquivo Jurídico, no Salão Concórdia. Nessa noite todas as honras foram minhas; o entusiasmo tocou ao delírio, quando arrematei a última estrofe de “Visão dos mortos” e, a pedido geral, encetei “O livro e a América”. Se algum dia obtive um triunfo, não foi noutro lugar. Até a senhora do cônsul inglês Richard Burton veio entusiasticamente dizer-me: “Mim gostar muito de sua recitativa” (rindo e imitando um sotaque inglês).
 
Atualmente não tenho mais debatido com o Tobias Barreto. Como o Senhor sabe, pouco tenho saído de casa. A minha última declamação em público foi, se a memória não me falha, em 10 de fevereiro deste ano, no salão nobre da Associação Comercial da Bahia, quando se realizava ali um meeting em favor das famílias francesas sacrificadas pela guerra franco-prussiana. Eu recitei o poema “No meeting du Comité du Pain”, escrito no dia anterior. Fiz especialmente para a ocasião.

Aproveitando a sua lembrança, o Senhor poderia nos falar da grande atriz D. Eugênia Câmara?

A minha admiração pela atriz D. Eugênia Câmara se confundiu com meu amor pela mulher Eugênia. Quando a vi pela primeira vez, no palco do Teatro Santa Isabel, no Recife, eu tinha 16 anos e ela 26. De minha parte, amor à primeira vista. Ela era a estrela do drama Dalila, de Octave Feuillet. Difícil descrever o impacto que a presença dela exerceu sobre mim. Digo apenas que ela foi a mulher mais importante da minha vida, a musa celeste que me arrastou, como um turbilhão, ao mais profundo fundo dos cafundós do inferno. E ainda mais, o que muitos não sabem: é poetisa. Já tem dois livros publicados.

Escrevi para ela o drama Gonzaga ou A Revolução de Minas, onde falo de liberdade, escravidão, traição, paixões… em suma, de tudo que atormentava ou deliciava minha existência, e se confundia com a própria Eugênia, para quem, é evidente, eu havia reservado o papel principal. Meu sonho era vê-la em cena interpretando meu texto.
 
O nosso amor foi sempre tumultuado. Em 66, após um longo período de indecisões e recuos, que nunca soube se eram meus ou dela, finalmente consegui arrancá-la do empresário com quem vivia, e levei-a junto com a filha, para morar comigo num subúrbio do Recife. Nosso ninho de amor… Dediquei-lhe muitos poemas… Ah! Bons tempos aqueles…
 
No ano seguinte, fui para a Bahia, levando minha mulher e uma certeza: iríamos conseguir encenar o Gonzaga em Salvador. O que, de fato, aconteceu no dia 7 de setembro, no Teatro São João, tendo à frente do elenco Eugênia no papel de Maria, a Marília de Dirceu. Foi uma brilhatura como há poucas! Fui chamado à cena depois de cada ato, sob estrondosa ovação. Não satisfeita, a multidão carregou-me em triunfo, sobre os ombros, até minha casa. Tive um triunfo como não consta que alguém tivesse na Bahia. Era a glória, mas era a glória baiana. Até aí a alegria do sucesso e o amor de Eugênia me completavam, mas eu queria a consagração nacional…
 
A noite encantada ao conhecer sua amada em cena, no Recife.
 

Eram cada vez mais constantes as nossas desavenças.
Cenas violentas, ciúmes, brigas, precárias reconciliações.
Sopravam-me histórias de adultério.


 

Foi por isso que o Senhor resolveu ir para São Paulo?

Sim, sim. Foi com essa intenção que decidi continuar os estudos de Direito em São Paulo , interrompidos quando viemos para Salvador. Eugênia foi comigo. Incluí no roteiro de viagem uma visita ao Rio de Janeiro, onde conheci o grande escritor José de Alencar. Chegamos a São Paulo em março de 68, a terra de Azevedo, cidade das névoas e mantilhas, ainda acanhada e provinciana, onde não há senão frio, mas frio da Sibéria; cinismo, mas cinismo da Alemanha, um tédio infinito. Entretanto prefiro São Paulo ao Recife, apesar das péssimas recordações daquele tempo, pois foi lá que o nosso amor chegou ao fim. O meu objetivo era terminar os estudos na Faculdade do Largo de São Francisco e o de D. Eugênia retornar aos palcos. No início retomamos a vida intelectual e boêmia, freqüentando saraus e salões, sempre com muito sucesso.
 
Porém, rapidamente, o nosso relacionamento se deteriorou. Eram cada vez mais constantes as nossas desavenças. Cenas violentas, ciúmes, brigas, precárias reconciliações. Sopravam-me histórias de adultério. No entanto, sei que ela me amou, como sei que, talvez, meu amor tenha sido insuficiente para sua paixão. Não a recrimino. Em determinado momento, largou a carreira para me seguir. Depois, me largou para seguir a si própria. Rompemos em 68 e a última vez que a vi foi no ano seguinte apresentando-se no Teatro Fênix Dramática, no Rio de Janeiro, quando pude lhe oferecer meus derradeiros aplausos. Despedi-me de Eugênia com a poesia “Adeus”, que termina assim (acomodando-se na cadeira):
 

Quis te odiar, não pude. – Quis na Terra
Encontrar outro amor. – Foi-me impossível.
Então bendisse a Deus que no meu peito
Pôs o germe cruel de um mal terrível.


Sinto que vou morrer! Posso, portanto,A verdade dizer-te santa e nua:
Não quero mais teu amor! Porém minh’alma
Aqui, além, mais longe, é sempre tua.
E Eugênia me respondeu com uma outra e que sei de cor. Vou dizer-lhe a primeira e a derradeira das 14 estrofes (a voz um pouco mais baixa):
 

Adeus, irmão desta alma, digo-te Adeus!
Mas deixa que eu evite esse – jamais! –
Que o céu se compadeça aos rogos meus
E um dia cessarão teus e meus ais!

Adeus! Se um dia o Destino
Nos fizer ainda encontrar
Como irmã ou como amante
Sempre! Sempre me hás de achar.
 

Como foi seu contato com José de Alencar?

Ah! Esse foi um dia inesquecível: 17 de fevereiro de 1868. Levei uma carta de apresentação do estadista baiano Dr. Joaquim Fernandes da Cunha, amigo de meu pai e padrinho da minha irmã Amélia. Visitei Alencar no Rio, como já lhe disse. Ele residia lá nos cerros da Tijuca. Segundo suas palavras, lugar puro e são, montanha encantadora que a natureza colocou a duas léguas da Corte, como um ninho para as almas cansadas de pousar no chão. E foi lá que o primeiro literato brasileiro provou-me que a ninguém cedia em cavalheirismo e urbanidade.
 
Sabendo que tocava numa corda sensível do mestre, além de declamar alguns poemas, li para ele o Gonzaga. Meu anfitrião era um obcecado pela construção de um teatro brasileiro, mesmo tendo fracassado na tentativa. Ele pregava um teatro baseado em nossa História – exatamente o que eu fizera, ao invocar em meu drama a Inconfidência Mineira. A receptividade foi muito boa, a ponto de Alencar recomendar-me a outro talento que se firmava na literatura fluminense: o jovem Machado de Assis, que me visitou no domingo de carnaval. O resultado desses encontros se traduziu nas crônicas publicadas no Correio Mercantil, a de Alencar em 22 de fevereiro e a de Machado em 1o de março, ambas muito favoráveis ao Gonzaga. Saiba que ainda guardo comigo esses exemplares do Correio.
 
 

Então busquei ajuda médica no Rio de
Janeiro e o diagnóstico foi implacável: teria
que amputar a perna esquerda no seu terço
inferior. Devido ao meu estado debilitado,
a intervenção cirúrgica se daria sem
anestesia, pois a cloroformização seria perigosa.


 

Quando e por que o Senhor decidiu deixar o sul do país e retornar à Bahia?

Devido a meus problemas de saúde; não ia nada bem. Quando me separei de Eugênia, a minha sorte piorou. Não sai da minha mente o fatídico dia 11 de novembro de 68, em que para espairecer minha solidão dirigi-me ao Brás, onde costumava caçar; era um mato cerrado, animais em abundância. Fui saltar uma pequena valeta e um disparo da espingarda atingiu-me o pé. Como todos sabem, surgiram complicações no ferimento e os antigos padecimentos pulmonares acordavam, impressionantes. Então busquei ajuda médica no Rio de Janeiro e o diagnóstico foi implacável: teria que amputar a perna esquerda no seu terço inferior.
 
Devido ao meu estado debilitado, a intervenção cirúrgica se daria sem anestesia, pois a cloroformização seria perigosa. Se não operasse poderia morrer; então reuni todas as minhas forças e dei a autorização aos médicos, em tom de blague, disfarçando sob o riso, a dor física e moral da mutilação que deveras sentia. Ainda lembro de minhas palavras: “Corte-o, corte-o doutor… ficarei com menos matéria que o resto da humanidade”.
 
A convalescença foi demorada, agravada pela tísica renitente. Após alguns meses consegui levantar-me com a ajuda de um pé de madeira e apoiado em muletas. Porém , não me entreguei ao infortúnio. Nesse período de recuperação, estive hospedado na casa de meu grande amigo Luís Cornélio, cercado de carinho e atenção. Não deixei de escrever e recitar meus poemas para o pessoal da casa e para as bonitas moças que me visitavam e inspiravam. É… Não foram tão maus aqueles tempos (risos). No entanto, os meus pulmões não iam nada bem; acessos de tosse e febre deixavam-me constrangido. A saudade da minha pátria e a necessidade de cura em outro ambiente me fizeram retornar ao aconchego da família. Em novembro de 69, deixei o Rio de Janeiro. A travessia, transposta a enseada maravilhosa da Guanabara, sugeriu-me, com a saudade e o desengano, a idéia de reunir os meus poemas num volume que denominei Espumas flutuantes. Os meus versos eram as espumas que se formavam, flutuando à volta do navio. Essa lembrança está relatada no Prólogo do meu livro.

Quais são seus planos para o futuro?

Como já lhe disse, estou com Os escravos pronto, deve sair até o final do ano ou, no máximo, no princípio do ano que vem. A cachoeira de Paulo Afonso, livro de poemas, também já está acabado. E quero publicar o texto do meu Gonzaga, que já viajou por todo o Brasil, e, como o Senhor sabe, com grande sucesso de público e de crítica. Infelizmente nos últimos tempos não tenho trabalhado muito, a minha saúde não anda boa, e os médicos e as manas não querem que eu faça esforço. Para dar-lhe esta entrevista, tive que impor a minha autoridade de irmão mais velho (risos).
 
Mas Deus vai me dar ânimo, pois tenho planos de voltar a declamar em público, no máximo daqui a um mês. Já encomendei até um novo terno preto, bem cortado, pois estou um pouco mais magro e quero me apresentar bem. Se Deus quiser.
 
 
 
Augusto Sérgio Bastos
é professor e escritor

Nota: A entrevista acima é uma obra de ficção,
embora todas as respostas sejam verdadeiras.
Foram baseadas nas cartas e entrevistas
do poeta Castro Alves.
 

domingo, 20 de agosto de 2017

Apontadores de jogo do bicho agora aceitam apostas de futebol

Prática ilegal que chegou ao Rio já acontecia em cidades do Nordeste

POR 


Apostas também acontecem dentro do Morro Santo Amaro, no Catete. 21/06/2016 - Fabiano Rocha / Agência O Globo




RIO - Apontadores do jogo do bicho estão diversificando o tipo de apostas que recebem. Agora, é possível, nas ruas do Rio e também dentro de comunidades como o Parque Arará, em Benfica, e o Morro Santo Amaro, no Catete, em vez de escolher um animal, tentar adivinhar o resultado de jogos de futebol. A prática, que chegou há um mês ao Rio, já é comum em cidades do Nordeste.

Este tipo de atividade ilegal entra na conta das apostas realizadas em sites sem regulamentação nacional e colaboram para o governo federal deixar de arrecadar mais de R$ 30 bilhões em impostos por ano. O total é uma estimativa feita pelo advogado e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pedro Trengrouse, especialista no assunto.
Ele diz que a falta de regulamentação do jogo no Brasil desencadeia uma leva de sites ilegais e apostas realizadas por apontadores do bicho, deixando um lastro de prejuízo para a União e para os apostadores, que nem sempre têm a garantia que receberão o prêmio.
Na 13ª rodada do Campeonato Brasileiro, que começou em julho, por exemplo, um site de apostas quebrou. Não teve dinheiro para honrar as apostas, e os prejudicados nem puderam reclamar, porque a atividade é irregular.
Trengrouse explica que o problema poderá ser repetir no Rio, e em todo o Brasil.
— O jogo do bicho no Rio descobriu este filão de apostas esportivas há um mês. O mercado irregular on-line aumentou tanto que chegou às ruas —disse Trengrouse, que acha necessária a regulamentação do setor.
Existem dois projetos, um na Câmara, criado pela comissão especial do marco regulatório do jogo no Brasil, e outro no Senado, do senador Ciro Nogueira (PP-PI), para serem votados. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já defendeu a liberação dos jogos de azar. O ex-presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chegou a listar o projeto entre as prioridades da Casa, mas, diante da crise política, a matéria ficou de lado.


Leia mais: https://oglobo.globo.com/rio/apontadores-de-jogo-do-bicho-agora-aceitam-apostas-de-futebol-21723952#ixzz4qHHfRI4h 
stest 
Quarta-Feira - 13/04/2016 - 10:10h
Mossoró

Vereadores evitam sessão após dia tumultuado de ontem

A Câmara Municipal de Mossoró não teve sessão ordinária hoje.
Não é para se estranhar.
Depois da sessão realizada ontem, quando houve promessa do vereador Tomaz Neto (PDT) – veja AQUI – apresentar novo pedido para instalação de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI), o corre-corre foi quase que generalizado.
Hoje, o dia é para se apagar as labaredas e evitarem maior “incêndio”.
Categoria(s): Política
Terça-Feira - 12/04/2016 - 23:56h

Pensando bem…

O choro existe para o homem não explodir.
Artur da Távola
Categoria(s): Pensando bem...
Terça-Feira - 12/04/2016 - 21:10h
Mossoró

Chikukunya mata internos do Amantino Câmara

O Abrigo Amantino Câmara, entidade filantrópica que dá apoio a idosos em Mossoró, já contabilizou três baixas recentes entre seus internos.
Perdas para a Chikukunya.
Apesar de todo cuidado que recebem de pessoas dedicadas e doadores, foram suprimidas por essa moléstia.
P.S – Seja um doador do Amantino Câmara.
Mantimentos, material de higiene pessoal etc. fazem muita diferença.
Categoria(s): Gerais
Terça-Feira - 12/04/2016 - 20:18h
Fechado

Beto Rosado anuncia que seu partido é pró-impeachment

Conversei há poucos minutos com o deputado federal Beto Rosado (PP). Reproduziu síntese de reunião concluída há menos de uma hora, no plenário 14 da Câmara Federal.
Beto: partido sm ministério (Foto: Câmara Federal)
A bancada do PP na Casa decidiu que “vai fechar questão”. Beto adiantou que os 47 parlamentares da sigla devem votar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PP).
São 51 ao todo, mas 47 estão no exercício do mandato.
Ministério
A reunião de hoje começou às 17h. Apesar das divergências, Beto adiantou que acredita que a bancada cumprirá o acordado. “O lado que perdesse seguiria a maioria é a maioria ficou favorável não impeachment”, reiterou.
Decisão complementar foi a de que o partido recomendará a seu único ministro, Gilberto Ochio da Integração, “que peça exoneração”.
O senador Ciro Nogueira (PI) preside o PP no país. Ele recebeu oficialmente o resultado da votação interna.
Arnaldo Ribeiro, da bancada paraibana, é o líder na Câmara Federal.
“Vou seguir o que ficou aprovado hoje”, assinalou Beto.
Categoria(s): Política
  • Repet
Terça-Feira - 12/04/2016 - 20:00h
Mossoró

Prefeitura segue com somas milionárias em propaganda

O vereador Lahynho Rosado (PSB) usou a tribuna da Câmara Municipal de Mossoró na manhã desta terça-feira, 12, para mais uma vez, denunciar os gastos excessivos da Prefeitura de Mossoró com publicidade e propaganda.
Segundo informações colhidas no Jornal Oficial do Município (JOM), entre dezembro de 2013, quando o prefeito Francisco José Júnior (PSD) assumiu, e março de 2016, quando houve o último pagamento para agências de publicidade, este ano, foram gastos R$ 13.619.438,78 com a Secretaria de Comunicação.
“Diga-se, gastos em alguns poucos veículos, pois há outros que, além de boicotados, recebem calotes milionários do gestor da Prefeitura de Mossoró”, alerta o líder da Oposição.
Lahyrinho disseca números (Foto: Valmir Alves)
Foram R$ 471.435,78 em dezembro de 2013; R$ 6.773.866,70 em 2014; R$ 5.321.073,04 em 2015; R$ 1.053.064,79 até março de 2016.
Prioridades
O prefeito gastou com a Secretaria de Comunicação, em média, R$ 486.408 mil por mês desde que assumiu.
Uma média de R$ 16.214 por dia.
A cada hora, em média e números redondos, o prefeito gastou R$ 676,00.
“Eu sonho com o dia em que a Prefeitura dará prioridade às ações que beneficiam à população, especialmente as que mais precisam, ao invés de gastar com propaganda pessoal”, sugere o vereador.
Categoria(s): Administração Pública
Terça-Feira - 12/04/2016 - 19:36h
Mossoró

Vereador vai propor CEI para gestões da Câmara

“Vou apresentar pedido de instalação de um CEI (Comissão Especial de Inquérito) para apurar gestões da Câmara Municipal de Mossoró, da atual a anteriores, nas últimas legislaturas”.
A declaração acima foi dada ao Blog pelo vereador oposicionista Tomaz Neto (PDT).
“Num momento em que o Brasil é passado a limpo pela Lava Jato, porque não fazemos o mesmo, a começar de nossa Casa?”, instiga Tomaz.
Ele diz que “não há o que temer” e espera ter apoio para essa CEI histórica, a primeira a ser aprovada pela Câmara em toda sua história.
Categoria(s): Política
  • Câmara - TV Câmera correto - 07-09-15
Terça-Feira - 12/04/2016 - 19:06h
Câmara de Mossoró

Maioria da própria base de Jório Nogueira quer sua saída

O requerimento aprovado hoje na Câmara Municipal de Mossoró (veja postagem abaixo), que pode afastar o presidente desse poder, Jório Nogueira (PSD), uniu oposição e governismo na Casa. Na verdade, maioria dos votos veio do governismo, do qual ele faz parte.
Do Palácio da Resistência, sede da Prefeitura, Jório não teve apoio até aqui.
Votaram pela admissibilidade do requerimento, os seguintes vereadores:
Oposição
- Tomaz Neto (PDT)
- Genivan Vale (PDT)
- Lahyrinho Rosado (PSB);
Governo
- Claudionor dos Santos (PEN)
- Manoel Bezerra (PRTB)
- Ricardo de Dodoca (PROS)
- Genilson Alves (PMN)
- Lucélio Guilherme (PTB)
- Cícera Nogueira (PSD)
- Flávio Tácito (PPL)
Os governistas Alex Moacir (PMDB), Soldado Jadson (Solidariedade) e Heró Silva (PTC) optaram pela abstenção. O oposicionista Francisco Carlos (PP), também.
Jório não pode votar, da mesma forma que o proponente da matéria, Tassyo Mardonny (PSDB).
Categoria(s): Política
Terça-Feira - 12/04/2016 - 18:30h
Câmara de Mossoró

Requerimento pode afastar Jório de presidência

Com dez votos a favor e quatro abstenções, a Câmara Municipal de Mossoró aprovou hoje requerimento do vereador Tassyo Mardonny (PSDB), que poderá resultar no afastamento do vereador-presidente Jório Nogueira (PSD) do cargo.
Jório: sitiado (Foto: reprodução)
Na justificativa, é arguido que Nogueira teria ferido normas internas da Casa, sonegando informações relativas à prestação de contas deste poder. Além disso, está retendo recursos da chamada Verba Indenizatória, atendendo par CEF do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
A votação de hoje não ejeta Jório do cargo de imediato. Abre caminho para que isso ocorra adiante. Ou não.
Uma comissão formado pelos governistas Manoel Bezerra (PRTB), Heró Silva (PTC) e Tomaz Neto (PDT) da oposição vai apreciar a base de sustentação do requerimento do neooposicionista Tassyo Mardonny. Em 90 dias, no máximo, seu parecer deve ser votado pelo plenário.
Se ocorrer a deposição, assumirá o vice Alex do Frango (PMD). Confirmando-se, será um caso absolutamente inédito na Casa.
Categoria(s): Política
  • Câmara - TV Câmera correto - 07-09-15
Terça-Feira - 12/04/2016 - 11:13h
Gim Argello

Ex-senador é preso em nova fase da Lava Jato

“O sistema político-partidário no país está apodrecido pelo abuso do poder econômico”, afirmou o procurador Carlos Fernando de Lima nesta terça-feira (12), ao detalhar a 28ª fase da Operação Lava Jato. O procurador afirmou ainda que “a corrupção no Brasil não é partidária”.
Nesta etapa, foi preso o ex-senador Gim Argello (PTB-DF), suspeito de cobrar propina para evitar convocação de empresários a comissões parlamentares de inquérito em 2014 e 2015.
Campanhas políticas
Segundo Lima, “o uso do poder é que gera corrupção. O exercício do poder, seja por qual partido for, tem gerado corrupção. E essa corrupção tem como finalidade suprir o caixa de campanhas políticas. Tanto é verdade que esses valores, boa parte, foram encaminhados para partidos da base de apoio desse senador, Gim Argello, entre eles, partidos inclusive da oposição.”
Ministério Público Federal (MPF) diz que há evidências de que o ex-senador pediu R$ 5 milhões em propina para a UTC Engenharia e R$ 350 mil para a OAS – as duas empreiteiras são investigadas na Lava Jato.
Veja matéria completa AQUI.