Enfim, o ano da Pátria Educadora
Qual o papel de um professor da rede pública de ensino na crise política e econômica brasileira atual? Seguir a íntegra apenas o conteúdo dos livros ou expandir o conceito de educador com diálogos livres, em que possa externa sua opinião sem medo?
Vai começar o ano letivo de 2017. Este será um ano singular e divisor de águas para a educação brasileira. Muitas coisas aconteceram entre 2014 e 2016 para desaguarmos neste momento histórico em que ser educador nunca foi tão politicamente importante. Quero dizer aos que me leem, que eu estou pronto! Não sei se a pátria está, mas devemos.É importante lembrar que, passada a última eleição presidencial, a pátria foi educadora até o famigerado impeachment da presidenta eleita com 54 milhões de votos. Ao longo deste processo, tornamo-nos, educadores, de protagonistas de mudanças singulares no cenário político nacional a algozes e párias da nação.
Estamos agora no momento em que a pátria, antes educadora, nos combate. Subitamente passamos de importantes personagens da transformação social a algozes deformadores das crianças e dos jovens.
Tão logo passada aquela famigerada eleição presidencial, paralelo a campanha de difamação da candidata eleita, e de forma inusitada, surgiu um movimento social de elite extremamente preocupado com os caminhos da educação pública e com jovens e crianças à mercê de perigosíssimos educadores.
A transformação não será televisionada
Com este movimento nasceu um seguimento político autointitulado ‘Escola sem Partido’ e, com ele, passamos subitamente de uma classe a quem era importante valorizar e reverter injustiças sociais históricas, por sermos sistematicamente desvalorizados de nosso papel transformador, a indivíduos detratores da juventude e das crianças. Já houve parlamentar a nos comparar com aliciadores e estupradores. Enfim, chegamos ao fundo do poço.Passamos de elite marginalizada e menosprezada pelo poder público a párias da sociedade. E eu me pergunto: qual a relação disto com as grandes transformações políticas que estamos passando, neste momento em que aquela presidenta eleita com 54 milhões de votos, que se propunha a uma “pátria educadora”, foi afastada, num jogo cheio de nuanças e cartadas jurídico-populistas, dando lugar a um governo comprometido com pautas conservadoras, ultra-neoliberais e defensor de monopólios empresariais, indiferente a sua inaceitação popular, ou até mesmo preferindo-a?
Digo-lhes: tudo!
Somos e devemos ser nós, os educadores, a grande oposição a tudo que se está desenhando no cenário político nacional. As tão propaladas reformas a que se incumbiu este novo governo dependem justamente de que as críticas e oposições sejam brandas e pairem nos ambientes legislativos como simples disse-me-disse. Não convém que personagens que tenham acesso a camadas populares da sociedade se posicionem neste sentido.
Quem abrirá os olhos das vidas severinas?
O risco é que abramos os olhos das maiores vítimas desta reforma, que são as camadas mais carentes da sociedade. Aqueles a quem nem os políticos chegam, sob risco de contaminação. Aqueles cujo único contato com a civilidade se dá pela escola e pelo contato com educadores. Somos nós os elos e a ponte entre o mundo dos indefensáveis e o mundo dos que tem foro privilegiado. É preciso que nos destruam!É preciso que nos calemos! Do contrário, as vidas severinas compreenderão que não mais se aposentarão, que direitos trabalhistas serão coisas do passado, e que sua miséria não será vontade divina, mas resultado de uma profunda transformação política que aspira a livre iniciativa de quem pode contra quem nenhum poder detém. Somos nós, os educadores, a persona non grata do grande golpe neoliberal.
Nosso trabalho nunca foi tão importante. É chegada a hora de sermos uma unidade, como uma só força contra quem nos quer calar.
O ano de 2017 tem de ser o ano da PÁTRIA EDUCADORA. Alguns de nós serão presos, mas “não há como ficar calado”, como nos disse Raduan Nassar!
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