Ana Tereza Basilio, O Globo
O Brasil não poderia aventar que sentiria saudades da elegância institucional do presidente Collor ao renunciar, em 29 de dezembro de 1992, ao cargo, diante do seu inevitável afastamento em processo de impeachment já em curso na ocasião. Embora provavelmente motivado pela intenção de se esquivar da sanção de inelegibilidade, Collor despojou-se do poder, sem os traumas e as profundas máculas noticiadas diaria- mente pela imprensa no Brasil e no exterior.
Itamar Franco assumiu a Presidência e restabeleceu a estabilidade institucional. Naquela ocasião, houve verdadeiro clamor público diante das gravíssimas acusações que envolviam o presidente eleito e Paulo César Farias, tesoureiro de sua campanha presidencial. Em valores atuais, o “esquema PC Farias” teria arrecadado, exclusivamente de empresários, o equivalente a US$ 8 milhões em dois anos e meio (1990- 1992).
E os registros da época dão notícia de que o esquema PC movimentou mais de US$ 1 bilhão dos cofres públicos. Esses números, que escandalizaram o Brasil em 1992, são movimentações ilí- citas tímidas de amadores perto do que já se apurou na Operação Lava-Jato. O esquema atual de corrupção também supera, em muito, a exposição, interna e externa, do país.
Depois de interferências inéditas da Corte Constitucional no funcionamento da Câmara dos Deputados, foram vistas revelações escabrosas de senador, até recentemente líder do governo no Senado. Posteriormente, viu-se a nomeação de ex-presidente a ministro, para livrá-lo do risco de prisão preventiva. E depois de tudo isso, assistimos a uma votação repleta de mensagens familiares e exóticas de deputados, que aprovaram a abertura do processo de impedimento da presidente.
Para culminar a patacoada nacional, um obscuro deputado do Maranhão, presidente interino da Câmara, protagonizou um verdadeiro espetáculo circense, ao anular decisão do plenário sobre o processo de impedimento, que já estava submetido à jurisdição do Senado Federal. O atarantado parlamentar, para completar o seu desastroso ato, reformou no final do dia a sua esdrúxula decisão depois de receber uma enxurrada de críticas.
O Brasil e seu nobre povo, decididamente, não mereciam passar por tanta desmoralização. Imaginem o que os países que travam relações comerciais conosco estão comentando da nossa pátria? O deputado Maranhão virou personagem de primeira página dos principais jornais do mundo. E nossa presidente mostrou desespero para se manter no poder ao utilizar o advogado-geral da União, que deveria defender em juízo os interesses do Estado, e não os do governo, para entrar com uma ação judicial no Supremo Tribunal Federal contra o Congresso.
Com o fim dessa sucessão de trapalhadas, a sociedade roga pela estabilidade política e retomada da economia, que deveriam ser a prioridade de nossos políticos, neste momento de uma das maiores crises que atravessamos na nossa história.
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