quinta-feira, 4 de maio de 2017

REACIONÁRIOS
ROBERTO CAVALCANTI
CorreiodaParaíba

Imagine um mercado de trabalho em que os trabalhadores não têm férias remuneradas, não ganham quando adoecem e quase todos os direitos e garantias são definidos em acordos bilaterais no ato de contratação.

Tem mais: neste mercado, o pagamento não é definido por um salário mensal fechado, mas pelas horas de trabalho. E há diferentes valores mínimos, dependendo da atividade executada pelo trabalhador.

Não é preciso imaginar:

Esse mercado de trabalho existe. E - acredite - funciona perfeitamente.

Tão bem que a maioria dos trabalhadores brasileiros - com toda a sorte de privilégios, garantias e regalias contidas na nossa quase centenária CLT – sonha permanentemente em fazer parte.

Porque não estou, em absoluto, me referindo a uma republiqueta marcada pela exploração injusta da mão de obra, onde trabalhadores são oprimidos.

Estamos falando – somente – dos Estados Unidos da América, a maior economia do planeta; a terra da livre iniciativa.

O exemplo americano sinaliza, de forma segura, a necessidade premente de flexibilização e modernização do nosso regime de trabalho – cujas leis, instituídas há mais de 70 anos, não refletem mais a realidade do mercado.

Não refletem, por exemplo, o aparecimento e avanço das tecnologias digitais – que viabilizam mundo afora (e há muito tempo) o trabalho fora do ambiente de trabalho.

Uma “novidade” que ainda não chegou ao Brasil da CLT porque um instrumento da idade da pedra chamado cartão de ponto obriga a massa trabalhadora a se espremer diariamente em transportes apinhados, em trânsitos engarrafados, quando poderiam produzir (muito bem, obrigado) dentro de seus próprios lares.

Este é um exemplo de como a modernização de nossas leis do trabalho podem ser muito bem vindas.

Mas esta é uma discussão que deve passar longe desse foco maniqueísta. Porque a modernidade não é necessariamente boa nem ruim.

É uma necessidade; é uma realidade que nos penaliza sem dó nem piedade quando a ignoramos.

E estamos sendo duramente penalizados com a carga pesada e ultrapassada da CLT – começando pelo desemprego que atinge hoje 14 milhões de brasileiros e se estendendo a falta de competitividade dos produtos made in Brazil.

Não estou – infelizmente - pintando o cão mais feio do que ele é.

A verdade é que, a exceção de recursos minerais e da produção de grãos viabilizada por nossa invejável condição climática, o Brasil não ganha uma só rodada de negociação no competitivo mercado internacional. Nossa pauta de exportações vem empobrecendo ao longo do tempo.

E a tradução mais fidedigna desse processo é pobreza – do Brasil e dos brasileiros.

Como ser competitivo quando a empresa brasileira paga o dobro do salário do trabalhador com encargos e deveres previstos numa legislação antiga e capenga?

Esse custo, sem dúvida, inibe a abertura de postos de trabalho. E achata os valores dos salários.

São motivos mais do que suficientes para o Brasil encarar essa pauta – sem paixões ideológicas, sem manipulação de guetos pouco republicanos.

Sepultando, de vez, essa novela de mau agouro encenada desde o século 19 de que a relação entre o capital e o trabalho precisa, sempre, ser litigiosa, marcada por desconfiança, ranço e ódio.

Aos grupos programados para antagonizar, uma pergunta:

Ainda não perceberam que estamos, todos, no mesmo barco em iminente naufrágio?

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