Proclamação da República: uma data para não comemorar, por André Araújo
ENVIADO POR ANDRE ARAUJO QUA, 06/12/2017 - 09:53
Proclamação da República: uma data para não comemorar
por André Araújo
Único Império das Américas, uma trajetória completamente diferente de todos os demais países da América Latina, um Império progressista muito à frente das “Repúblicas” caudilhescas da América Ibérica, País único pela sua formação nacional, um Império Habsburgo nos trópicos, o Brasil jogou fora sua magnifica História para se transformar em uma vulgar república de chefetes de aldeia. A proclamação da República foi um erro histórico cujo custo não foi pago até hoje pela população brasileira.
Uma monarquia constitucional representava um Estado unitário com comando centralizado sob um soberano de primeira linha, culto, sóbrio, íntegro, interessado no progresso da ciência e das invenções, respeitado na Europa e nos Estados Unidos. A revisão histórica do período imperial nos revela um Dom Pedro II como monarca de primeira água, melhor que o pai, melhor que a maioria dos monarcas europeus da época, que pena que o Brasil jogou fora um modelo institucional que nos serviria muito melhor que uma República de caudilhos regionais.
Uma nova safra de boas obras sobre o período monárquico nos revela um Dom Pedro sob uma luz que só melhora sua imagem, que sempre foi boa. Recomendo o livro de Laurentino Gomes “1889” e o de Lilia Schwartz “As Barbas do Imperador”, obras que documentam uma fotografia mais nítida de Dom Pedro, sua época e as circunstâncias obscuras e desconhecidas da derrubada inesperada de uma monarquia popular e apoiada pelos mais pobres.
Laurentino revela que Dom Pedro II pagava de seu bolso cientistas para desenvolverem pesquisas, o desenvolvimento científico era um dos seus interesses maiores, por curiosidade quer conhecer Graham Bell, o inventor do telefone, com quem se encontrou nos EUA.
Fantástico é também lembrar que Dom Pedro II esteve no Líbano, então província turca, incentivando a imigração libanesa para o Brasil, que se tornaria a maior diáspora daquele País no mundo, isso no longínquo tempo de longas viagens de navio. Dom Pedro já tinha a visão da construção nacional pela imigração, também foi grande incentivador da imigração italiana e alemã, atraída para um País que tinha um governo e instituições sólidas.
A República foi um “downgrade”, um rebaixamento de estatura do Brasil, o que antes era exclusivo, único, virou banal, comum. O Império caiu sem uma explicação razoável à época e depois da época. Não houve uma causa-mãe, um razão fortíssima, um motivo detonador.
O monarca foi simplesmente colocado em um navio e despachado. Morreu no exilio, pobre e sozinho, sem aceitar sequer um estipêndio que a Republica lhe ofereceu para morrer dignamente. Laurentino Gomes mostra a “não razão” da deposição do Monarca, a falta de motivos lógicos, o engano que foi oferecido à população atônita, afinal era um regime de quase sete décadas com o mesmo homem à frente. O povo encarava o Imperador como imutável e imortal, era parte da coluna mestra do País, sua queda não era esperada ou desejada, especialmente após a Lei Aurea de 1888 que engalanou a Monarquia.
Na Europa a deposição do Monarca foi recebida com enorme surpresa, o regime era considerado sólido, o “status” do Brasil era muito alto enquanto Império.
Um único País queria o Brasil República: os Estados Unidos, que apesar de respeitar o Imperador, único Chefe de Estado convidado nas Américas à Exposição Universal de Filadélfia, em 1876, como hóspede de honra do Presidente Ulysses Grant.
Os Estados Unidos via com desagrado uma Monarquia de raiz europeia, Orleans com Habsburgo, sendo os Orleans primos dos Bourbons, quer dizer o mais puro sangue europeu, numa parte do mundo que já consideravam como sua área de influência. O célebre historiador Rocha Pombo na sua “História do Brasil” em cinco volumes registra minuciosamente a queda da Monarquia e seus desdobramentos diplomáticos, mostrando o “lobby” dos EUA pela República, que já nasceu copiando o nome “República dos Estados Unidos do Brasil”, a constituição e as Instituições norte-americanas. Os EUA foram o único grande País a receber com alegria a instauração da República no Brasil, um evento que foi com choque e desalento na Europa onde a reputação do Império do Brasil era infinitamente superior às repúblicas caudilhescas sucessoras da Espanha.
Uma nova releitura das circunstâncias do fim do Império do Brasil nos dará uma melhor compreensão desse terrível e decisivo acontecimento que está na raiz de muitos de nossos males atuais.
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