segunda-feira, 22 de abril de 2019

História de Rondônia: Jerônimo Santana reconquistou a Ponta do Abunã, mas frustrou plano de mudar a capital para Ji-Paraná

Fonte: DO ROLNEWS
22/04/2019 14h 15min
  • COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA
  • Compartilhar no Facebook00
  • Compartilhar no Google Plus00
  • Compartilhar no Twitter
História de Rondônia: Jerônimo Santana reconquistou a Ponta do Abunã, mas frustrou plano de mudar a capital para Ji-Paraná
Jerônimo recebe em Porto Velho o ex-presidente do MDB, Ulysses Guimarães
Bem vindo ao Player Audima. Clique TAB para navegar entre os botões, ou aperte CONTROL PONTO para dar PLAY. CONTROL PONTO E VÍRGULA ou BARRA para avançar. CONTROL VÍRGULA para retroceder. ALT PONTO E VÍRGULA ou BARRA para acelerar a velocidade de leitura. ALT VÍRGULA para desacelerar a velocidade de leitura.Ouça este conteúdo0:00100%
Defensor de garimpeiros desempregados com a chegada de máquinas de grandes empresas que passaram a extrair cassiterita (minério de estanho) a partir de 1970, o ex-deputado Jerônimo Santana chegou ao governo em 15 de março de 1987, com 153.334 votos, e nele enfrentou o desafio de reintegrar ao Estado de Rondônia 500 mil hectares de terras da Ponta do Abunã.
Jerônimo foi o primeiro prefeito eleito de Porto Velho e o primeiro governador também eleito desde 1943, quando o presidente Getúlio Vargas criara o Território Federal do Guaporé. Governadores eram todos nomeados por presidentes.
Da mesma forma que o coronel Jorge Teixeira de Oliveira em seu segundo período, Jerônimo debateu-se com desentendimentos e crises partidárias.
“Seu desgaste começou a partir do momento em que resolveu compor o primeiro escalão do seu governo com técnicos residentes em outros estados, o que o fez perder aliados”, lembra o historiador Francisco Matias.
Ainda conforme Matias, o relacionamento do governador com o funcionalismo público foi “catastrófico”, por causa de greves e manifestações contrárias às demissões efetivadas, do achatamento salarial e dos constantes atrasos de pagamentos de servidores estaduais e de federais à disposição do estado.
TERRA DISPUTADA
Por ordens da governadora Yolanda Fleming (PMDB), a Polícia Militar do Acre ocupava a Ponta do Abunã entre 1986 e 1987, durante o mandato-tampão do governador Ângelo Angelim, nomeado por ato presidencial a exemplo de tantos outros dos extintos territórios federais do Guaporé e Rondônia.
Aparecido Ferreira da Silva, ex-funcionário do Banco do Estado de Rondônia (Beron) e morador em Extrema contava que o Acre ali instalara diversos órgãos administrativos, o seu banco estadual, unidades de saúde,companhias de energia elétrica e de águas, e posto fazendário. Depois de Rio Branco, a região representava a segunda fonte de arrecadação e significativo colégio eleitoral com inscrições feitas então pelo TRE-AC.
No entanto, a ocupação do braço ocidental do Estado de Rondônia pelos vizinhos desrespeitava o limite centenário da Linha Geodésica Beni/Javari, ou Cunha Gomes [marco divisório e fronteiriço com o Peru, culminando na Vila Murtinho].
“Invadem o território rondoniense usando táticas alexandrinas de conquista, com o fito de agradar os habitantes da região e no intuito de promover, no futuro, um plebiscito separatista”, protestava em 17 de maio de 1989 o senador Ronaldo Aragão (PMDB).
 
Aragão alertava para o fato de as limitações impostas pelo governo federal não impedirem a invasão. Mesmo com a criação do estado pela Lei Complementar nº 41, os vizinhos passavam a considerar consolidada aquela faixa de terras.
Laudo técnico assinado pelo diretor do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mauro Pereira, e divulgado em 26 de novembro de 1987 sob o título “Nota técnica da diretoria de geociência”, atendia o convênio firmado pela Comissão Tripartite, representada pelos estados do Amazonas, Acre e Rondônia para levantamento cartográfico e geodésico firmado pelas partes em 19 de fevereiro de 1986.
Assim, o município de Porto Velho continua até hoje com seus 34 mil quilômetros quadrados, área individualmente maior que a dos estados de Alagoas e Sergipe.
“A ÁGUIA POUSOU”
Sucederam-se reuniões, contou em 2009 o advogado Tadeu Fernandes em artigo publicado no site Gente de Opinião.
Para instalar em Extrema e Nova Califórnia agências Beron, Companhia de Águas e Esgotos (Caerd), Departamento de Estradas de Rodagem, Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), Circunscrição de Trânsito (Ciretran),Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Companhia de Armazéns Gerais (Cagero), e Comissão Executiva dos Vales do Madeira, Guaporé e Mamoré (Cemaguam). Jerônimo também anunciava projetos para a construção de hospitais, escolas, estradas urbanas e rurais, e aeroportos.
Antes da retomada, o ex-governador Jorge Teixeira lá desembarcava de helicóptero. Houve um fato hilariante, lembra-se o jornalista Lenilson Guedes, que acompanhava a comitiva governamental: “O comando da PM determinou aos P2 [policiais da Inteligência] que se infiltrassem disfarçados entre os invasores acreanos, para verificar possíveis uso de armas, mas  o coronel Vanir Ferro se  deparou com eles usando óculos escuros e chapéus de marcha. Bradou, então, aos policiais que se fosse daquele jeito, era melhor ir fardado, porque se esconderiam melhor”.
Depois, no governo Jerônimo, o vice-governador Orestes Muniz, o procurador geral do estado Pedro Origa Neto, e o comandante da PM, coronel João Maria Sobral Carvalho encaminharam relatórios e ofícios a Brasília. Pessoalmente, eles procuraram o ministro das relações institucionais, general Bayma Denys, e o ministro da Justiça, Oscar Dias Corrêa – sucedido por Saulo Ramos –, sem a resposta convincente.
Jerônimo radicalizou, baixando um decreto governamental inédito, apenas com número, para a execução do plano sigiloso do resgate territorial. “Somente depois de desencadeada a operação, quando o sigilo não mais se justificava, é que fora publicado na íntegra; nesse decreto o governador me nomeava para coordenar as ações da retomada da Ponta do Abunã”, relatava Tadeu Fernandes três décadas após o ocorrido.
O garimpo do Madeira também estava em pauta no governo. Na região do Abunã a exploração de ouro envolvia brasileiros, bolivianos e também exigia a intervenção do estado.
Segundo o advogado, as diretrizes gerais para as ações de cada órgão público eram tomadas em reuniões do alto comando da PM e da Polícia Civil. O planejamento setorial ficava em Extrema, a 328 quilômetros de Porto Velho.
“Reunimos várias vezes no Comando da PM com o coronel Carvalho, e foi aí que conheci o alto grau de competência na montagem do plano de retirada dos invasores: tudo bem planejado, para evitar confrontos que poderiam resultar em mortos ou feridos”, contava Fernandes.
Na noite do dia 12 de maio de 1989 todos compareceram no Comando para a saída das tropas, e dali saíram centenas de militares em 98 viaturas; no auge da crise, chegaram a aproximadamente 700.
 Tão sigilosa fora a operação, que nem os soldados sabiam seu motivo. “Eles imaginavam que iriam combater a criminalidade nas balsas e dragas que faziam garimpagem no Rio Madeira, e quando a corporação se preparava para a travessia do rio, pela balsa do Abunã, as viaturas tiveram que ser substituídas por caminhões e basculantes de uma empresa privada, porque os veículos do governo não conseguiam entrar na balsa”.
Às 11h15, o advogado coordenador recebia a comunicação do coronel Ferro: “Comandante, a águia pousou. A Ponta do Abunã é de Rondônia. Operação sem alteração e sem baixas”.
As tropas ocuparam a região sem nenhuma reação e cercaram os dois distritos de maneira ordeira. Era um fim de semana: políticos e autoridades do Acre se encontravam em Rio Branco.
“Conduzimos alguns funcionários até a divisa, em seguida o governador Jerônimo Santana, comigo e com o vice-governador Orestes Muniz, Coronel Carvalho, Chagas Neto, Moisés Bennnesby, Valter Bártolo, hasteou a bandeira de Rondônia, com a execução do hino pela banda musical da PM”, acrescentava.
O coordenador lembra também no relato, a colaboração dada à operação pelo então diretor geral do DER, Valdir Raupp de Matos; pelo vice-governador Orestes Muniz; pelos secretários Manoel Messias, Roberto Duarte e Olímpio Távora; pelos coronéis PM Borre, Carvalho, Ferro, Ferreira, Zimmermann e Lucena, major Valmórbida; e todo efetivo da Polícia Civil.
CAPITAL EM JI-PARANÁ, PLANO FRUSTRADO
Jerônimo tentou mudar a capital do estado para Ji-Paraná, a 367 quilômetros de Porto Velho, e foi hostilizado.Projeto de lei nesse sentido fora apresentado pelo deputado estadual Edson Fidélis (PMDB).
“Foi o deputado Amizael Silva (PDS) quem articulou para evitar a consolidação desse plano, com o voto decisivo do deputado de Jaru, Silvernani Santos, acusado de trair o interior”, lembra o jornalista Carlos Sperança.
“Se tivesse êxito o projeto faria de Jerônimo um JK do norte brasileiro. A capital se situaria na região de Mirante da Serra”, ele comenta.
Surpreendentemente, o governador desagradou a capital, deixando de apoiar efetivamente Tomás Correia. “Eu notei que ele foi tratado a pão e água, entretanto, Jerônimo agradou bastante o adversário Francisco Chiquilito Erse, facilitando-lhe a construção de avenidas saneadas e estruturadas, entre as quais, a Jorge Teixeira (antiga Kennedy) e a Rio Madeira.
Jerônimo sofreu outras frustrações ao ser boicotado pelo PFL. Para Sperança, a primeira-dama Palmira Santana influenciava no governo, mas não em pastas com poder de decisão. “Autarquias criadas nos idos de Teixeirão já começariam a tropeçar na gestão Angelim, naquele governo-tampão, continuando com Jerônimo e outros governadores até o ponto lastimável que chegaram, inclusive a Caerd, criada nos tempos do território”, assinala.
UM OLHAR PARA OS RIBEIRINHOS
Na análise de Sperança, ele fez bom governo, embora tenha deixado o Palácio Presidente Vargas desgastado com a opinião pública e sem conseguir eleger o vice Orestes Muniz, seu sucessor.
“Foi bom, porque deixou o seu melhor legado em estradas, na estrutura da malha viária rondoniense que ganhou vulto naqueles idos de grande fluxo de migrantes”, assinalou o jornalista.
Em março de 2008, o jornalista Paulo Queiroz comentava:
“Eleito em 1986, Santana até que não fizera uma administração das piores. No entanto, por conta de uma brigalhada sem fim entre os peemedebistas, e por uma atuação para lá de competente das oposições, chegou ao último ano do governo em petição de miséria política. Para se ter ideia do bode de bicheira em que se transformara, basta dizer que, entre seis candidatos, o então vice-governador Orestes Muniz amargou o sexto lugar, abaixo até do desconhecido Inácio Lemke (PT)”.
“Com o assassinato de Olavo Pires, o 2º turno estava sendo disputado entre Raupp – que concorria pelo partido de Fernando Collor (PRN) – e Osvaldo Piana (PSC). Desnecessário dizer que ninguém queria saber de negócio com o homem da bengala – como era conhecido o governador”.
Para o acadêmico de Letras Matias Mendes e homem do interior  – ele é de Costa Marques –, o governo Jerônimo foi “dos piores para os centros urbanos de Rondônia, mas teve a virtude de atender as comunidades ribeirinhas do Madeira, do Machado e do Guaporé”.
Lembrou Matias as razões desse feito: ao criar a Cemaguam, confiou a poderosa superintendência à gestão de Walter Bártolo, dotando-a de orçamento compatível com as necessidades ribeirinhas. “Walter Bártolo, conhecedor profundo dos beiradões do Madeira, do Mamoré e do Guaporé, foi a sopa no mel, a grande oportunidade que ele esperava para levar melhorias às regiões ribeirinhas, das quais ele era tão íntimo”.
A área de atividades da Cemaguam abrangia desde o distrito de Demarcação, no rio Machado, ao Cabixi, na divisa de Mato Grosso e Rondônia. Sua estrutura incluía os Serviços de Navegação dos Vales do Madeira e Guaporé e outros órgãos que atendiam regiões ribeirinhas.

Bártolo trabalhou pela integração das comunidades ribeirinhas, dotando-as de infraestrutura de produção: casas de farinha, centros sociais, postos de saúde, embarcações miúdas com potentes motores de popa, geradores estacionários, antenas parabólicas, instalações de pequenas agroindústrias, pequenos tratores e outros equipamentos. “Algo nunca visto, nem nos áureos do governo do coronel Jorge Teixeira”, sublinha Matias.
Demarcação, Calama, São Carlos, Nazaré, Terra Caída, Papagaio e outras comunidades do Vale do Madeira tiveram visibilidade, e da mesma forma, o distrito de Surpresa, no rio Mamoré, as comunidades de Santo Antônio, Pedras Negras, Rolim de Moura e outras do Vale do Guaporé.
“Unificados, os dois serviços de navegação [Madeira e Guaporé] fizeram surgir a Empresa de Navegação de Rondônia [Enaro], que teve o seu acervo renovado e reequipado com barcos novos ou recuperados, e novas embarcações de apoio à navegação”, lembra Matias.
FIM DE CARREIRA

Jerônimo deixou o governo em 15 de março de 1991. Tinha diabetes e era hipertenso. Sofreu um derrame, resistiu e passou o resto da vida numa cadeira de rodas, em Brasília, onde morava desde o final da década de 1980.
Em 1982 foi candidato ao Senado Federal, obtendo 67.188 votos, o quarto colocado no estado. Em 1984 voltou ao controle político e, em 1985, elegeu-se prefeito de Porto Velho.
“Foi Jerônimo quem conduziu “o processo político que culminou com a demissão do governador Jorge Teixeira e a indicação de seu substituto”, lembra o historiador Francisco Matias.
Conforme o historiador, já no final do seu governo ele fora acusado de corrupção e sofreu impeachment decretado pela Assembleia, mas o ato não durou mais que 24 horas.
Jerônimo acumulava sucessivas vitórias desde os anos 1970, mas na década de 1990 amargava fragorosas derrotas. Lembra o historiador: “Por sua condição de líder maior do PMDB, granjeou todos os méritos das vitórias e absorveu o ônus das derrotas políticas e eleitorais, o que aconteceu na convenção regional de 1993, quando foi impedido de apresentar chapa para concorrer ao diretório e ficou fora do partido por ele fundado e dirigido por mais de três décadas”.
Sem espaço, quis ingressar no PTB, mas sua inscrição fora indeferida pela direção nacional desse partido. Gosto amargo para um homem que fez mais pelo trabalhismo na Amazônia, do que alguns dirigentes e membros da sigla originalmente getulista.
“No início de 1994, contrariando sua própria trajetória política, ingressou no PPR [sigla surgida da fusão do PDS com o PDS] e se candidatou ao governo, obtendo míseros 11.281 votos, ficando em penúltimo lugar no cômputo geral; em outubro, filiou-se ao PFL”, observa Matias.
Em casa, na capital federal, emocionava-se ao lembrar da luta pela elevação de Rondônia a Estado. Em 1978, seu projeto de lei para esse fim fora modificado pela assessoria do ministro do Interior, Maurício Rangel Reis. “Eles copiaram!”, protestava, retirando da estante o original, de sua autoria.
Tentou três vezes, por lei complementar, elevar Rondônia a estado, porém, na votação da lei que o criou, exercendo a liderança da bancada do MDB na Câmara, absteve-se de votar.
Morreu em 11 de setembro de 2014, de insuficiência respiratória, num hospital do Rio de Janeiro.
O HOMEM
► Relator da CPI da Terra [Sistema Fundiário Nacional], ele foi um dos homens mais visados pelo regime. Três vezes deputado federal, Jerônimo Santana (MDB) teve o nome na lista dos “cassáveis” durante o governo do general Ernesto Geisel.
► Foi membro da CPIs das Áreas Indígenas, da Política Mineral e da Ocupação da Amazônia.
► Na Câmara dos Deputados foi vice-presidente da Comissão de Minas e Energia e da Comissão da Amazônia. Participou ainda da Comissão de Interior e da Comissão de Fiscalização Financeira e Tomada de Contas.
► São de autoria dele os projetos de lei criando as comarcas de Cacoal,Guajará-Mirim, Ji-Paraná, Pimenta Bueno e Vilhena.
► Deixou as seguintes publicações: A questão garimpeira de Rondônia, A cassiterita de Rondônia entregue a grupos multinacionais, Pela Criação do Estado de Rondônia – uma luta de oito anos.
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Arquivo Sejucel e Sílvio Santos
Secom - Governo de Rondônia

Outras Imagens

História de Rondônia: Jerônimo Santana reconquistou a Ponta do Abunã, mas frustrou plano de mudar a capital para Ji-Paraná
Jornalista Carlos Sperança: ele fez um bom governo
História de Rondônia: Jerônimo Santana reconquistou a Ponta do Abunã, mas frustrou plano de mudar a capital para Ji-Paraná
Coronel Vanir Ferro comandou as tropas no Abunã
História de Rondônia: Jerônimo Santana reconquistou a Ponta do Abunã, mas frustrou plano de mudar a capital para Ji-Paraná
Ex-governador Jerônimo Santana

domingo, 21 de abril de 2019

Letícia Piccolotto é mestre em Ciências Sociais, especialista em Gestão Pública pela ... Apagão tech160 mil vagas não serão preenchidas no Brasil em 2019. 00:00. Ouvir. 00:00. Letícia Piccolotto. 2020-04-20T19:04:00. 20/04/2019 04h00.

sábado, 20 de abril de 2019

Apagão tech: 160 mil vagas não serão preenchidas no Brasil em 2019 Letícia Piccolotto 20/04/2019 04h00 Se faltam especialistas em tecnologia para empresas privadas, faltam ainda mais aqueles que pensam em digitalizar os governos do Brasil – papel que acaba sendo absorvido pelas startups Vamos ser justos: eu e você não saímos do celular. Eu, você e todo mundo. Seja para trabalhar, por lazer, compras, busca por respostas – nos acostumamos a contar com o poder da tecnologia para quase tudo. Hoje o brasileiro gasta em média 9 horas por dia conectado à internet. Somos o terceiro país do mundo em número de usuários do Facebook e segundo no Instagram. Entre os jovens de 18 a 35 anos,... - Veja mais em https://govtech.blogosfera.uol.com.br/2019/04/20/apagao-tech-faltam-milhares-de-profissionais-de-tecnologia-no-brasil/?cmpid=copiaecola

terça-feira, 16 de abril de 2019

História de Rondônia: no governo do deputado Ângelo Angelim, Rondônia alcançou o seu primeiro milhão de habitantes

Na análise política, Angelim fora governador tampão, por administrar o estado no período entre a saída do último governador ainda nomeado pelo presidente, e a eleição de Jerônimo Santana em 1986, o primeiro pelo voto direto desde 1943*.
Montezuma Cruz Fotos: Arquivo Sejucel, Arquivo Secom e Congregação Comboniana Secom - Governo de R 
Publicada em 15 de abril de 2019 às 15:48
História de Rondônia: no governo do deputado Ângelo Angelim, Rondônia alcançou o seu primeiro milhão de habitantes
Governador Ângelo Angelim e Tomás Correia caminham; atrás, Jerônimo Santana e Orestes Muniz
Rondônia alcançou o primeiro milhão de habitantes durante gestão do governador Ângelo Angelim, entre 10 de maio de 1985 e 15 de março de 1987. O presidente eleito Tancredo Neves morreu em 21 de abril de 1985, o vice José Sarney substituiu-o, e um dos seus primeiros atos foi exonerar o governador Jorge Teixeira de Oliveira, nomeando Angelim para o cargo.
No advento da chamada Nova República, o compromisso alardeado era “probidade e competência”. Esse período teve início no final do regime militar em 1985, com a saída do general João Baptista de Oliveira Figueiredo da Presidência do Brasil e a entrada de um civil no cargo. Também é conhecida por Sexta República.
Na análise política, Angelim fora governador tampão, por administrar o estado no período entre a saída do último governador ainda nomeado pelo presidente, e a eleição de Jerônimo Santana em 1986, o primeiro pelo voto direto desde 1943*.
A indicação resultou de um consenso entre o PMDB e a Frente Liberal, lembra o jornalista Lúcio Albuquerque: “O nome de Angelim obteve aprovação do Senado Federal, embora tenha encontrado resistência de parlamentares que pretendiam o cargo, e de adversários políticos, entre eles o senador Odacir Soares (PDS)”.

A escolha resultara de um parto político a fórceps. Dois nomes disputavam a preferência dos parlamentares estaduais: os também deputados Amizael Silva  e Amir Lando , mas prevaleceu Angelim, por indicação de Santana.

Renunciando à cadeira na Assembleia Legislativa, o professor assumiu o governo e apontou como prioridades o atendimento aos pequenos produtores agrícolas; investimento nas áreas de saúde, educação, energia elétrica e proteção ao meio ambiente; e a reivindicação ao governo federal para um tratamento diferenciado.
Rondônia acumulava problemas decorrentes da intensa migração para o estado e os problemas da fronteira brasileira com a Bolívia também lhe afetavam. Tanto que Angelim instalava em Guajará-Mirim o seu governo itinerante, ouvindo reivindicações. Em sua gestão foram criados os municípios de Alvorada d’Oeste, Alta Floresta d’Oeste e Santa Luzia d’Oeste.
Em 24 de julho de 1985 Angelim colocava a polícia civil no encalço dos assassinos do padre missionário Ezechielle Ramim (foto),  da Congregação Comboniana**, morto numa tocaia na Fazenda Catuva, município de Aripuanã (MT). Depois de velado numa procissão pelas ruas de Cacoal, o corpo do padre foi enviado para Pádua (Itália) e sepultado pela família. Presos, os matadores do padre foram levados para a Penitenciária do Carumbé, em Cuiabá.
Segundo o padre comboniano Pedro Bracelli, a Comarca Cuiabá julgou dois processos. Condenado, um dos mandantes  fugiu. Poucos meses depois da morte de Ezechielle houve um desafio entre colonos e fazendeiros, e um deles, Omar Pires Bruno, denunciado como responsável pelo assassinato, morreu numa emboscada, naquela fazenda.
A firmeza e o equilíbrio do secretário de segurança pública Raimundo Correia estavam em jogo pouco tempo depois disso: o governador Angelim teve que demiti-lo por haver autorizado atos de tortura que resultaram em morte de posseiros na Agropecuária Santa Julia, em Porto Velho, e noutra ocasião, por tumultuar um voo para Cuiabá, onde desembarcou embriagado e foi internado num hospital daquela Capital, de onde fugiu.
Em abril de 1986, o senador Odacir Soares, apoiado pelos senadores Galvão Modesto e Claudionor Roriz (todos do PDS), e por quase toda a bancada federal de Rondônia, acusou o governador de corrupção. Angelim não se descompatibilizou do cargo de governador no prazo estipulado [fevereiro de 1986], e assim deixou de concorrer nas eleições de novembro. Em 14 de março de 1987, passou o governo para Jerônimo Garcia de Santana, o primeiro governador eleito pelo voto direto desde 1943 (criação do Território Federal do Guaporé).

MIGRAÇÃO DESENFREADA, MALÁRIA E DESESTÍMULO

Entre janeiro e junho de 1984 haviam chegado mais 82 mil pessoas e até dezembro elas seriam 130 mil. Para assentar apenas um terço desse contingente, o governo estadual estimava investimentos de 12 bilhões de cruzeiros apenas para os projetos do Incra. Desse total, oito bilhões seriam consumidos pela abertura de estradas vicinais.
O inchaço desafiava o Incra, que foi responsável pela titulação de 3,4 milhões de hectares em Rondônia entre 1979 e 1983. Até junho de 1984 alcançavam-se mais 358,9 mil ha. Só se tornavam proprietários dessas terras os maiores de 21 anos.
O Núcleo Estadual Responsável por Migrações recebia do IBGE a confirmação da taxa de crescimento de 15,80% da população rondoniense, superando as médias de outros estados, especialmente os do Centro-Oeste.
A situação ficava delicada para o coordenador especial do Incra, Ernani Carvalho Coutinho, que defendia o direito constitucional de ir e vir. Os novos projetos eram a única saída, embora ele reconhecesse que a extensão de todos eles seria insuficiente para o assentamento desses migrantes.

Antigo seringal, Machadinho do Oeste virou cidade após a consolidação de um projeto do Incra. Chamava-se apenas Machadinho. Foi ali que se reencontraram os agricultores paranaenses Aristides Pivetta, 46 anos, e Severino Pereira da Silva, 42. Moravam vizinhos no Paraná.

Severino, pernambucano de Arcoverde, pai de sete filhos, morava em Jaru desde 1981. Não se deu bem no Paraná, onde trabalhava em lavouras de café. Aqui, obteve um lote de 50 ha, dos quais preparou sete com arroz, milho, feijão, banana, batata e café.
Aristides plantou cacau, mandioca e previu para mais tarde o cultivo de guaraná e grandes fruteiras. Vivia com o governo na cabeça e na ponta da língua:
– Não escondo de ninguém que me filiei ao PDS para conseguir esse lote mais rápido, com facilidade – confessava, sem disfarçar o riso. Alguns colonos vindos dos estados da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo também fizeram isso. PDS era a sigla do Partido Democrático Social, sucedâneo da Aliança Renovadora Nacional (Arena). Ambos apoiavam o governo.
“Ponta de lança da fronteira humana brasileira, onde não há nem a miséria do pessimismo nem a abundância proclamada pelos otimistas, o mais novo estado possui hoje cerca de um milhão de habitantes” – noticiava o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro.
– Segurar essas pessoas quando elas estão prestes a realizar o seu sonho, não dá. É preciso orientá-la nas suas cidades de origem, antes de viajarem para Rondônia – opinava o então líder do PMDB na Assembléia Legislativa, Amir Lando.
O Incra dava o seu jeito, expedindo AOS (autorizações de ocupação), apesar de o Banco do Brasil e os bancos particulares – Bradesco e Bamerindus principalmente – penhorarem sucessivamente as terras de inadimplentes em Ji-Paraná, Ouro Preto do Oeste e Jaru.
Entristecidos, muitos agricultores não tinham dinheiro para pagar o financiamento agrícola. Quando via algum colono esperançoso demais, o motorista de ônibus da Eucatur, Eugênio Gonçalves, brincava:
–  chegando mais um iludido pra voltar um desesperado.
Contudo, essa recessão não desanimava o lavrador cearense João Roque Moreira, também oriundo da lida de um grande cafezal em Nova Aurora (PR). Corajoso, anteriormente ele percorrera os estados de Minas Gerais e São Paulo, com êxito. Mãos calejadas e com catarata (perda da transparência do cristalino) no olho direito, João Roque embarcaria num ônibus rumo a Ouro Preto, na BR-364. Buscava mais uma empreitada na vida, talvez a mais certeira.
Plantaria cacau para um nissei, depois receberia do Incra um lote no Projeto Urupá. Uma frase breve traduzia o seu contentamento:
– Estou me sentindo rico e já penso até que posso ser feliz.
O nome faz referência ao nascimento de um novo período democrático, em oposição ao antigo governo que representava a censura, falta de democracia e repressão aos movimentos sociais.
Mais tarde, em 2009, Angelim confessava algumas amarguras: “Além de desentendimentos com o deputado Jerônimo, a perseguição que afirmou ter sofrido de parte do Tribunal de Contas do Estado; e na disputa de 1990 pelo Senado, quando disse ter sido abandonado pelo então candidato Oswaldo Piana”.
Angelim assumia o cargo enfrentando um desafio: o Banco Mundial (BIRD) havia congelado US$ 200 milhões de financiamentos ao setor público em Mato Grosso e Rondônia.
Em Porto Velho, diversas obras de alcance social estavam paralisadas. Pefelistas [políticos do Partido da Frente Liberal] ligados ao então deputado Francisco Chiquilito Erse pleiteavam a metade das secretarias de governo.
O homem forte de Angelim foi seu cunhado, Francisco Ansiliero, chefe da Casa Civil, que em tudo interferia, notadamente na área educacional. Servidor do estado, em 1984 ele foi autorizado por decreto do governador Jorge Teixeira de Oliveira a viajar para Videira (SC), a fim de assessorar o plano de educação rural daquele município.
O governo mudou em meio a greves. O coronel Jorge Teixeira de Oliveira, Teixeirão, transmitia o cargo a Angelim em ato solene na sacada do Palácio Presidente Vargas, mas lá fora repercutiam algumas greves do funcionalismo público [13 mil servidores] que experimentava a redução de 50% em seus salários, em consequência do novo plano de reclassificação de cargos.
Com o presidente da Assembleia, deputado Amizael Silva, em ato no interior do estado

O HOMEM

Graduado em Letras, Filosofia e Administração de Empresa, ele era casado com Elisabeth Maria Ansiliero Angelim, com quem teve dois filhos.
Nomeado secretário municipal de educação de Vilhena em 1977, Angelim acumulou o cargo com o de administrador do então distrito de Colorado do Oeste. Em 1982 foi eleito deputado estadual e nessa condição relatou os trabalhos da comissão que elaborou a Constituição de Rondônia.
Primeiro vice-presidente do diretório estadual do PMDB e presidente da Assembleia Legislativa, renunciou ao mandato após ser nomeado governador pelo presidente José Sarney, em 1985.
Na noite de 21 de dezembro de 1988, foi sequestrado por um desconhecido, juntamente com sua família, e libertado menos de uma hora depois mediante pagamento de resgate. No pleito de outubro de 1989, candidatou-se ao Senado na legenda do Partido Trabalhista Renovador (PTR), sem êxito, perdendo para o advogado Odacir Soares Rodrigues. Retirou-se da cena política e passou a administrar uma fazenda de sua propriedade.
Morreu em Cuiabá aos 82 anos, em  julho de 2017.
____________
* 1943 – ano da criação do Território Federal do Guaporé pelo presidente Getúlio Vargas, através do Decreto nº 5.812, com área territorial formada por parte dos estados do Amazonas e do Mato Grosso. Desde então, todos os governadores – inclusive os do Território Federal de Rondônia – foram nomeados por presidentes, conforme mostramos nessa série de matérias.
O sentido exato do mandato tampão é o período de tempo acrescido ao tempo regular de um mandato com o intuito de manter a estabilidade política.
** Referente ao bispo e santo católico italiano Daniel Comboni, que foi missionário no Sudão (África), onde morreu em 1981, vítima de febres. O Papa João Paulo canonizou-o em 5 de outubro de 2003.
Saiba mais de Comboni neste site.

1985 EM RONDÔNIA